quarta-feira, 18 de maio de 2011

Eu quero um amor pequeno

Todos os amores verdadeiros tornam-se pequenos.
Apenas o amor que nunca existiu torna-se grande,
Maior do que o mar que os separa...
Porque no amor pequeno há a presença...
O suor, a bofetada da palavra dita na hora errada
O pus que escorre da inflamação que lateja...
No amor pequeno encontra-se o trigo de cada dia
O cuidado, o carinho de olhar
A preocupação de não machucar...
Está lá no outro... o defeito, berrando para ser aceito...

No amor não realizado
Encontra-se o descuidado com o coração do outro.
Não há lugar para o defeito que luta em ser aceito
Existe champanhe, flores, sabores, madrugadas, estrelas, luas e deuses.
Apenas o sonho existe.
E por tal, belo.
E por tal, eterno.

Eu quero um amor pequeno... Um amor verdadeiro,
Que venha inteiro,
Que seja o único, o primeiro,
E que se torne real.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

A fome

A fome

Silvana Pimentel Batista

Eu quase morri na noite passada todas as noites quase morro de frio de dor de fome porque tu não estás aqui porque tudo fica vazio quando durmo e porque quando durmo quase morro e morrer poderia ser fácil mas sempre acordo com o coração aos pulos quando a carótida dobra e me falta o sangue quando a única carótida interna que me puxa da morte resolve se dobrar durante o sono lateral sono visceral sono que me acompanha durante as reuniões importantes as quais compareço para fazer meu pedido de paz que a paz venha para o mundo porque existo porque preciso viver a carótida pulsa todas as outras veias latejam e penso que faz-se necessário viver quando se tem uma razão minha razão é egoísta sou egoísta e penso apenas na minha carótida que não pode entupir para que eu não suba ou desça para o além antes da missão cumprida antes que eu construa o hospital para os pobres de uma pequena cidade perto de um rio nasci para isto para construir hospitais que me salvem da morte quando faltar sangue no cérebro e meus aneurismas explodirem todos e eu virar comida de flor e os famintos-irmãos irão todos ao meu enterro e porque sentem a mesma fome que eu porque ela é vendaval alvoroçando as casas da região porque a fome existe e não posso negá-la porque a fome é universal e ninguém consegue esquecer que as barrigas se enchem às vezes mas que um coração não se preenche que eu quis preencher o seu alento contra o vento quis dar o ombro para o encontro que eu quis ser médico de almas sem pensar em tempo em fome em barrigas famintas em estrelas caídas em corações sem amor em crianças sem valor esbanjando tristezas com sal nas almas eu penso nas mulheres nas portas dos presídios nos assassinos de mulheres e nas igrejas cheias de mulheres e nos presídios cheios de homens e sei que o mundo necessita de homens que liberte outros homens que liberdade é sonhar que o amor é a maior liberdade penso que é preciso vencer o medo que é preciso escancarar meus lábios e pronunciar palavras que libertem lembro daqueles que já defendi e que ajudar a libertar alguém é bom que se em uma vida inteira eu tiver colaborado para libertar apenas um ser já terá valido viver penso também nos construtores de idéias penso no sangue que pulsa nas veias dos homens todos os homens são tão iguais e as mulheres apaixonadas são ridículas e eu sou ridícula porque apaixonada pelo meu próprio sangue e sonhando em ter uma carótida interna direita mas para que ter carótida direita se nunca tive e ela nunca me fez falta decidi agora que não posso morrer antes que todos os livros que quero escrever sejam escritos decidi que não quero ser cremada porque um enterro precisa ser descrito porque belo sem coração não há vida sem sangue não há vida sem razão corto minha vida sem fome já morri que morram todos de fome mas que a fome seja de amor