segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Ismélia
                           Silvana Pimentel Batista


Meu nome é Ismélia,
De asa partida,
E pus na ferida.

Se nome não lhe dou,
Dou-lhe o sonho das borboletas prateadas,
Que florescem no mês de Março.
E cruzam na estrada,
Prá lá e prá cá,
Voejando e se exibindo.

Debaixo do coqueiro,
Fica a alma da Beegle envenenada,
Que sai às vezes,
Para me fazer companhia...
E corre, abanando o rabo,
Alegre por existir novamente.

O riacho sem perigos tem cobras
Água cristalina reproduz melhor as trutas,
Enquanto bebo café,
Observo a casa de marimbondo,
A grama crescendo,
Os jasmins me envolvendo
Eu, me perdendo de saudades...
Daquilo que ainda não tive. 

Deserto

Silvana Pimentel Batista

E fez-se deserto em mim...
Mesmo com muita chuva,
Não permaneci oásis,
Tornei-me grão de areia moída,
Doída,
Ferida,
Vivida,
Partida.
Mas sou.
Estou.
Inteira.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Sem título

As estrelas brilham mais na Praia do Abraãozinho. Será que é por que elas pensam que são pessoas?

A gata da pousada lambe seus cinco filhotes,
O cachorro pensa que é o pai...
E os lambe também.
Levei minha filha para comer Kebab, no francês.
Numa topada,
Tiro o tampo da sola do pé
Me esvaio em sonhos;
Os bichos notívagos me seguem,
Farejando o sangue que espalho.
Caminho até o mar,
Choro, varada de estrelas.
Choro por todas as estrelas que não brilharam em mim,
Meu corpo se dissolve agora em lágrimas, sangue e estrelas.
Tenho mais lágrimas do que a praia em que me banho nua.
Vestida com meus cabelos,  sal e sangue,
Flutuo sob os cacos das pedras
Enquanto durmo e sonho
Com anjos tocando trombeta para me acordar.
Minha amiga amamenta sua menina,
Tal a gata Miau sustenta os filhos.
Com tetas grandes, de deusa.
A pousadeira se ajoelha e me deposita um cobertor,
Nos ombros que ainda soluçam
De saudade das estrelas que não me pertenceram,
dor de amor.
Lava o meu pé,
Pinga na ferida gotas de própolis,
Que ela mesma prepara.
E o corte se fecha por milagre.

Deus abençoe aqueles que sofrem e
Dos humildes faça-se o reino dos céus.

domingo, 13 de fevereiro de 2011


Nem

Silvana Pimentel Batista

A esteira marcava
Meus próprios passos na areia
Eu lia as Cartas a um jovem poeta, do Rilke;
Celine Dion começou a cantar no rádio: 
We don’t say goodbye, we don’t say goodbye,
Que me lembrou alguém querido.

Eu a ouvia,
Enquanto caminhava.
Era em mim mesma que eu pensava?
Naquilo que não foi... e poderia ter sido?

Minha amiga falou que estou obinubilada,
Se este palavrão quiser dizer que
Vendados estão meus olhos...
Não encontrara ela melhor palavra...

Penso
E não sei nem de mim...
No mural, facetas diversas,
Da mesma musa.
Observo dezenas de Mona-lisas travestidas
Com seus rostos diversos, cabelo de Bombril,
Fantasia de Branca de Neve,
Boina de terrorista,
Um Poodle com rosto da Mona,
Estilo Super Star de Hollywood; ou
A diva se transformando em cavalo.

No espelho facetado,
Fragmentos de reflexos pessoais,
Interrogo-me.
Qual delas sou eu?
Sou todas. Sou nenhuma.
Eu não sei nem de mim...

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Florbela

Silvana Pimentel Batista

Cheguei tarde no jardim dos labirintos.
Por que quis ver a maior videira do mundo?
Eu tenho que voltar lá.
O cisne quis ser meu amante...
E conversamos durante toda a noite.
Tirei até uma foto...
Eu e o cisne.
A sopa quente na cozinha do castelo,
Sorvia-me.

Ana Bolegna caminhou naqueles corredores, em companhia da morte,
Por 1000 noites.
Cavalguei em pêlo, por anos, enquanto fantasmas de metal, na garupa,  me mostravam o caminho dos ventos.
Caminhei até encontrar a libélula no meio da névoa.
Eu, flor.
Ela, bela.