sábado, 14 de abril de 2012

A palavra

A palavra é esfinge
É elo de corrente que solta
E que prende,
Depende, de quem a veste.
Depende, de quem a sente.
É horizonte, é cardume, é alcateia.
É colmeia.

A palavra é bailinho de criança.
Uns a usam como recurso,
Outros, como máscara ou escudo.
A palavra é detentora de hiatos, ditongos,
Tritongos e tesouros
Com ela, vou indo;
Cruzo a Finlândia, dirigindo
Sem saber onde parar
Sem saber a linguagem que querem me explicar
A palavra é o sol da meia noite,
É amor,
É açoite.

É sorvete que escorre,
É concerto, é sonata, é cantata,
Escrita, falada ou cantada,
Ela te seduz.

A palavra lambe-te,
Beija-te,
Escorre-te,
Engana-te,
Abençoa-te e acaricia-te,
Na solidão de noite fria.

Por isto, digo-te:
Fica com a palavra.

Ela te dará alegrias
Te fará companhia,
E te falará mais de amor,
Do que o próprio amor.
E te apontará a luz
De um novo dia.

Silvana Pimentel Batista

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Um caminho


Meu vestido de veludo vermelho
Entende mais de sedução 
Que mil livros de erotismo;
E centenas de Kamasutras juntos.
E meu decote,
Congrega um universo 
De lobos sedentos.

Com meu vestido vermelho,
Minhas mãos douradas de lua
Plantam vida.
No jardim, entre
Hortelã, mangericão
E Alecrim
Cultivo pequeninos pedaços de estrela.
Florescendo a horta da vida, 
Por que o que há de nascer, 
não toma outro caminho,
Cresce e floresce.


Nem tudo

Para o Fernando Pessoa,

“Tudo vale a pena quando a alma não é pequena.”

Tudo vale a pena quando a alma não é pequena,
Tudo vale a pena quando a alma não é
Tudo vale a pena quando a alma não está
E quando está também
E mesmo sendo pequena, vale também,
Pela chance de se tornar maior.

Maior é a pena que sinto de gente com alma pequena
E quanto menor,
Maior é minha pena de alma pequena,
De gente pequena, gente sem alma,
Gente sem sentimento
E sem pena.

Mais sinto, de gente que
Perdeu a alma,
E nem grande, nem pequena,
Inexistente.
De dia, fantasia,
Na verdade da noite,
Só açoite.
No corpo, o mel,
Por dentro,
Fel.
Tem gente que rouba criança para extrair os órgãos,
E os dentes;
Que assassina almas...
E tudo faz, sem pena.

É Pessoa, há pessoas que não valem a pena,
Nem pequena, nem grande
E nem valem a alma que têm.
Há pessoas que não valem o cuspe
Que lhes atiro na cara.