quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Os poentes do Mato Grosso


Os poentes do Mato Grosso,
Pura solidão.
Coisa descendo, avermelhando dentro da gente.
Gostava daqueles pores de sol,
Do chão de terra batida, do rio escuro
A quem ia fazer companhia.
Momentos em que me permitia ser triste.

Em outros,
Andava ajoelhada pela cidade,
Espalhando sangue,
Nas lascas diamantosas,
Implorando ao pistoleiro
Que me protegesse da morte.

Escorpiões me espreitavam do teto,
Enquanto um tucano morria numa gaiola...
A alma desse tucano ainda me visita,
De tempos em tempos,
Para me lembrar que o matei.
Sou culpada.
Por que aceitei-o de presente, como se aceita um livro,
Um anel?

Talvez, por isso, hoje, faça anéis.

Carrego em mim toda a culpa dos meus erros,
Todo o ruído do firmamento,
A catinga do mundo e
desejo de viver e de voar.

Sabe que a cobra, mesmo a bem pequenininha, anseia injetar veneno?
Tento justificar a minha maldade.
Quando a vi,
ela já me preparava o bote...
Tudo tão rápido. 
O bote, o pau, a morte.
Cobra e tucano.

Aprisionei o tucano.
Aprisionei-me.
Acorrentei-me quando aceitei o tucano...
Um ser que voa não deve ser aprisionado... nunca...
Acorrentei-me quando afastei o desejo. 

Violetar


Poema dedicado à minha avó Atalgibes Pereira Pimentel.
“Longe é um lugar que não existe.” Richard Bach
– 21/04/2010
Silvana Pimentel Batista

As violetas violetaram no outono.
Violetou  meu desejo
Que é todo,
Total.

Violetaram as violetas cor de rosa,
Claras como a brancura fantasmagórica
Da sua lembrança.

Verei seu vulto?
Você deitará sua cabeça no meu colo, do jeito que eu,
Outrora, repousava no seu?
Seu cheiro de fritura,
De milho assado,
De brasa queimando no fogão de lenha...
Todas as violetas me lembram você.
Suas mãos finas, queimadas pelo fogão implácido,
Grossas veias queimavam-lhe as pernas,
Arrebentadas pelo arroz-e-feijão, diário,  para os hóspedes.
Eu não era hóspede.
Mas era neta,
Mais especial do que violetas,
Do que a gata alva Mimi.
Eu te amava com loucura.
Minha avó.
E nem sabia…