terça-feira, 14 de junho de 2011

Desejo de noivo

…na noite em que nos casamos, não te possuí... tu te lembras? Chegamos cansados da viagem e envergonhada, querias tomar um banho a sós... permaneci no quarto, ouvindo o barulho da água que escorria pelo teu corpo... encostei o ouvido na porta até distinguir o ruído daquela tua água... quando as gotas caíam pelos teus seios e mergulhavam direto no chão do Box, o ruído era diferente... quando elas deslizavam sobre cada milímetro do teu corpo e chegavam aos teus pés, suavemente, perfumando aquele pedaço de estrela, não faziam sequer, barulho... teus cabelos estavam molhados, as auréolas de teus seios que eu quis tanto divinizar tornaram-se firmes, os teus pêlos pubianos se enrolavam tal caracóis brilhantes... eu quase explodia de desejo, imaginando aquelas formas tão minhas... conhecia a tua temperatura... a pele macia de fêmea quando ama... tu já observastes que quando uma mulher ama, a pele se transforma de tal maneira que se torna iluminada? sim, eu te iluminei com meu amor... tu me levantas e me tocas tal fada tocaria me sinto ao rubro, tenho vontade de cobrir a mim mesmo, morro de ansiedade de ter-te ali, se deitando sobre mim e cobrindo meu corpo inteiro, tal um jasmineiro, tal um campo de margaridas – que existem apenas para serem comidas, deitadas, lidas... o teu banho se alonga... e eu quero estar lá, naquela água contigo, naquele prazer que, intuo, tu atinges sem mim... porque não precisas de mim, e não preciso de ti... precisamos de nos termos de volta, porque nos perdemos há séculos... eu estou em ti... e tu estás em mim... e quando tu me tocas e me sugas... alimentas-te de mim, que me esvaio em ti, para ti, por ti... mas tu não terminas este banho nunca... porque tu queres permanecer limpa... limpa de ti, limpa de mim... meus poros estão abertos, minhas narinas alargaram-se tal qual meu membro que lateja por ti... minhas mãos desejam tanto fechar-te o corpo num abraço, para que nunca mais olhes para outro homem com um pensamento de desejo... sim, desejo... desejo que teus pensamentos sejam apenas para mim, que teu grito de prazer seja sempre com meu nome e que em todos os teus escritos escrevas meu nome para que o mundo todo acredite que me amas... só assim eu provarei que tu te casaste comigo por amor... que amas o meu cheiro, meu suor, meu toque, meus beijos... meus lábios passeando pelo teu corpo... lembra do teu aniversário, meu amor? Quando te divinizei e beijei-te cada milímetro do teu corpo, repetindo, incessantemente... feliz aniversário? Feliz, feliz estou neste momento... em que te espero sair do banho... mas o banho se alonga... o barulho da água cessa... ouço teus passos do outro lado da porta... tu vens para mim... linda, limpa, perfumada e quente... tu não vens... tu não vens... ouço um barulho... um baque seco no chão do banheiro... e mais nada... grito, imploro... forço a porta e percebo que tu a trancastes por dentro... grito por ti novamente e não me respondes... sigo gritando para que me atendas... para que tu não partas... não respondes... desesperado, telefono para a recepção do hotel... tento arrombar a porta... não consigo... preciso que venham imediatamente com a cópia da chave do banheiro da nossa suíte... quando o camareiro chega e abre a porta... vejo-te lá, branca, linda, em meio a uma poça de sangue que escorre dos teus ouvidos, formando uma bela moldura para teu rosto... teu corpo ainda quente, pela água do banho... o camareiro encantado com tua nudez... e eu me mordendo de ciúmes de ti... que até depois de morta ainda encanta os homens... então, para cobrir teu corpo puro... deitei-me sobre ti, adormeci e amanheci vermelho... 

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Sobre seres humanos...

Minha gata Florzinha me adora. Na noite passada, estranhou a cama pequena, no escritório, mesmo assim, para lá me acompanhou e dormiu aos meus pés. Às vezes, ela me olha com um olhar de amor sem tamanho e não consigo evitar uma pergunta: Será que já fui amada mais do que ela me ama?

Hoje acordei cedo. Na mesa da sala, ouvindo Ludovico Einaudi, eu abria conta por conta e anotava. Somava, dividia, calculava... Feliz por estar viva, ter contas (os mortos não precisam mais pagar suas próprias contas!)... Feliz por ter esperanças na vida... Quando minha gata Florzinha escalou a mesa e se posicionou bem em cima das contas que eu pagava.

Inocente, confiando demais no amor da minha gata, levei minhas mãos ao seu corpo, na tentativa de retirá-la da mesa. Ela, então, se virou contra minha mão esquerda, a agarrou como quem segura um pássaro, com as quatro patas e me mordeu o pulso várias vezes. E eu lhe dizia “não, não” e ela continuou a me morder, a segurar meu pulso com unhas afiadas, arranhando, mordendo, até sangrar.


Einaudi me encanta com suas melodias, e eu me pergunto quão temos de gatos. Quão humana minha gata é... Que me ama mais que os seres humanos me amam... E quão gatos somos, quando somos ariscos, quando nos escondemos, quando amamos e machucamos o ser amado. Não basta arranhar um pouco... Não é o suficiente. Queremos segurar, com nossas quatro patas e morder, morder a jugular, subjugar, fazer sofrer, morder, morder até ver a presa sangrar. 


Que estranho é ser humano!