sábado, 18 de setembro de 2010

Cicatriz

Para todas as mulheres maravilhosas que abrem suas veias e deixam jorrar verdades...


Será que uma mulher precisa ser esguia para ser tornar poeta famosa?
Se eu precisar ser magra e alta tal Anne Sexton...
Ter uma histeria inata,
Um sex appeal incontrolável...
Daquele que canaliza quem lê para a página aberta...
Estou perdida.

Porque não sou alta,
Nem magra.
Minha coluna é torta;
Mas tão torta que nem operação de cima a baixo,
Deu jeito,
E fiquei adernando... tal navio no meio do mar, perdido, sem saber prá que lado vai...
E foi por isto que chorei num museu em Londres,
Quando ele me acusou:
“Mas você é torta!”
Sim, sou torta,
Que fique bem claro aqui,
Sou muito torta.
Nesta encarnação e em todas as próximas encarnações em que eu vier
Porque este tronco dentro de mim,
Não conhece direção certa e cresce perdido, procurando o sol...
Vai prá um lado errado... corrige, volta pro outro... corrige... e assim vai...
Vai crescendo, subindo e formando essa escoliose dupla
E a corcunda que, atônita, assisti a se formar em minhas costas.

O anão marginal me capturou porque odiei-lhe a corcunda.
Odiei ver nele aquilo que era meu,
A corcunda disforme,
Meu segredo maior, que teimava em me avassalar,
Que tirei com dor de bisturi profundo,
Martelo, serrote, músculos que se soltavam e litros de sangue esvaídos e recebidos .
Dor que explodia dentro de mim,
Cicatriz nas costas inteira e na alma. Inteira.
Foi quando eu não fui forte nem para abrir meus olhos,
Nem para me olhar no espelho,
Nem para pensar...
Foi naquela semana que eu chorei de alegria
Por um banho;
Um simples banho,
A água me lavando,
e eu queria que ela levasse as dores, as angústias, a solidão.
Mas aquela solidão de hospital insistia em permanecer.
Insistiu,
E foi ficando e ficou por tanto tempo...
Que me tornei poeta,
Só prá poder falar doidamente,
Desta solidão que eu quero estrangular.

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