sábado, 24 de março de 2012

PROFECIA

Hás de escrever teus versos em meu corpo
Versos potentes tais os cavalos viajantes de Netuno.
Teus dedos hão de dedilhar
As cordas longas dos meus cabelos longos
E desenlaçar os fios dourados como quem colhe flores.

Hás de pronunciar palavras,
Leves borboletas
E elas tocarão as fundas grutas escuras do inconsciente,
E soarão dos teus lábios de chuva,
Tal sinos budistas,
Dos teus dentes torrões de açúcar.

Hei de ter meus seios de asas celestiais tintos pelo sangue que escorre dos teus lábios
Estes lábios murmúrio de fontes e lavas de vulcão.
Criados para aquecer os meus.

Sorverei teus lábios tal pêssegos suculentos
E o sumo escorrerá por meus seios e garganta
Como o tintilar das orquídeas em flor,
Da flor de todas as flores que cantastes.

Hás de beijar meus seios
E extrairá de mim o leite
Dar-me-ás água e vinho
Com o qual me embebedarei de prazer por ter-te,
Por beijar teus olhos de lince e lobo tenebroso.
Hei de desenhar teu corpo imóvel de albatroz,
Pintar uma aquarela de ti
Corpo de montanha que treme,
Ereto tal um astro,  cor de lua.
Ah, beijarei tuas unhas de pérola,
E tuas pálpebras janelas, pelas quais me observas.
Na porta do tempo, castelo de mil portas coloridas,
Que abrir-te-ei .
Tu me envolverás com teus braços de amante
E beijar-me-ás a cabeça,
Afundada em teu peito até que eu durma um sono,
Que nunca mais dormi,
Depois de ti.

Hei de olhar-te de perto.

E haverá em ti o brilho das coisas alegres.
Teu corpo mostrar-me-á a pressa dos astros,
Quando vieres amar-me,
Tocando a harpa do tempo.

Irei cantar-te com meus olhos
Estes meus olhos que são,
Ao mesmo tempo,
Água de rio corrente e fogo ardente.

As minhas coxas de mulher, tu beijarás,
Com tua saliva doce
Rabiscarás poemas no meu corpo
Para que tu reescrevas a minha história
A minha história que é a tua,
A nossa história de mil anos.

Ah, meu amor,
Tu não sabes que somos a prova viva
Da atração das almas?

Ouço já o silêncio dos teus passos.
Percebes que, às vezes, repetes minhas palavras,
Saboreando-as como quem
Degusta e se embriaga vagarosamente?

Hás de fazer-me o amor com os óleos de Osíris e
Hei de fazer-te o amor em retorno,
Porque antes de ti,
Nunca houve o amor.

Tudo o que existiu antes de ti
Foi semente em campo minado 
Para explodir em raízes 
Que se enroscam dentro de mim
E impedem-me de dizer teu nome,
Na presença de outra pessoa,
Este teu nome dourado.
Cheio de som e cheiro de flor do meu jardim,
Nome que pronuncio apenas quando estou só,
Com as minhas rosas.
E nem que usem fórceps 
Para extrair da minha garganta a verdade,
Eu a revelarei.

Já te falei que a minha verdade é minha.
Tal qual a tua mentira é tua.


Hás de vir e
Quem sabe,
Talvez cansados e velhos
Ainda haja tempo para sermos corajosos?
Quem sabe, talvez um dia,
Retirarás a máscara que te aprisiona?

Este será o dia em que nossos corpos haverão de arder de amor,
Enquanto isto, que as palavras ardam em nossas páginas. 

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