domingo, 24 de outubro de 2010

Feixe de estrelas

Por Silvana Pimentel Batista

Queria ser capim,
Pro gado comer,
Mastigar, regurgitar, engordar.

Teria assim alguém por perto,
Sempre,
Mesmo que fossem só vacas prenhas e touros.
Seria assim vital para alguém.

E esta faca cortante
Que ataca as minhas manhãs,
Atravessa o meu dia,
Não existiria mais,
Porque eu seria importante para alguém,
Nem que fosse para as minhas vacas.
Nem que ficasse castigada pelo sol queimante,
Pisada pelas patas dos gigantes devastadores,
Eu não viraria erva,
Erva daninha.

Carrego o peso de um navio.
O desamor me acompanha e sinto uma enorme pena de mim mesma,
Esta solidão que me flagela há séculos,
Desde que fui escrava no Egito,
 nunca vai acabar.

É um olho torto,
A coluna entortou mais,
O aneurisma pode rebentar a qualquer hora.
Vida dura essa de quem vive.

Não quero ser mais coitada do que já sou,
Que de coitada não tenho nada.

Tanta gente triste,
Enquanto gargalho...
Tanta gente que perdeu cabelo,
Nas quimios e radioterapias para câncer...
E eu com meus cabelos longos e lisos,
Do jeito que os homens gostam.
Homem gosta de cabelo...
Profetiza minha amiga.
Só não gosta é lá embaixo...

Quero ter pena não,
Nem de mim,
Nem de ninguém,
Porque a cada um Deus deu seu próprio feixe de estrelas prá carregar.
E o meu é tão grande...

Nenhum comentário:

Postar um comentário